Atualmente, o câncer provoca uma em cada oito mortes no mundo, e estes números tendem a subir.
A doença pode atingir qualquer pessoa, porém, algumas têm um risco maior de desenvolverem a doença. Aproximadamente 30 a 50% dos casos de câncer poderiam ter sido prevenidos por meio de mudanças no estilo de vida e afastando fatores ambientais.
Nas últimas décadas, cientistas do mundo inteiro têm se dedicado a pesquisas sobre esse mal, tentando estabelecer as causas, fatores de risco e medidas de prevenção contra ele. Porém, as evidências são contraditórias e muitas vezes difíceis de serem interpretadas.
Com o objetivo de esclarecer a verdadeira relação entre a exposição aos fatores de risco e o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, o World Cancer Research Fund e o American Institute for Cancer Research se uniram, 25 anos atrás, em um projeto ambicioso.
Desde 1997, eles periodicamente publicam relatórios que analisam milhares de trabalhos científicos pelo mundo e descrevem as conclusões e recomendações dos especialistas.
O projeto, chamado de CUP (Continuous Update Project), propicia a integração entre cientistas de todo o mundo. Eles compartilham suas descobertas e estas são interpretadas por um painel de especialistas.
Juntos, esses cientistas dedicaram tempo e muito esforço para criar uma série de recomendações valiosas na prevenção do câncer e de outras doenças crônicas.
Esse artigo resume os principais pontos do Third Expert Report: (Diet, nutrition, Physical activity and Cancer: a global perspective). Vamos lá?
Segundo os especialistas, a nutrição, atividade física e obesidade são os principais fatores relacionados ao câncer.
A dieta contém substâncias não nutritivas que influenciam no metabolismo, como fitoquímicos, fibras e cafeína. Além disso, pode conter elementos nocivos como o arsênico, por exemplo.
Os vegetais e frutas contém diversos micronutrientes e fitoquímicos, alguns com efeito protetor contra o câncer. São eles:
Além desses, as frutas e vegetais contêm vitamina C, E, selênio e folato. O consumo regular de todos esses elementos reduz o risco de câncer.
A carne vermelha cozida em altas temperaturas contém compostos cancerígenos. Além disso, o alto teor de sal dos processados danifica a mucosa do estômago e causa inflamação.
O consumo de álcool também aumenta o risco de câncer. Seu metabolismo forma compostos cancerígenos e radicais livres.
Existem fortes evidências de que a prática regular de exercícios reduz o risco de câncer. Ela melhora o sistema imunológico, controla os níveis de insulina e reduz o dano oxidativo ao organismo.
A obesidade é um dos principais fatores de risco para o câncer, pois é promotora de inflamação e cria um ambiente favorável para a multiplicação das células e ocorrência de metástases.
Manter um peso saudável é uma das medidas mais eficazes na prevenção do câncer.
O relatório classifica a associação do fator de risco ou proteção em:
Associação convincente |
Associação provável |
Associação sugerida |
|
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Aflatoxinas | Câncer de fígado | ||
Dieta pobre em vegetais não glicêmicos | Câncer colorretal | ||
Dieta pobre em frutas | Câncer colorretal e de estômago | ||
Carne vermelha | Câncer colorretal | Câncer da nasofaringe, esôfago, pulmão, estômago e pâncreas | |
Carne processada | Câncer colorretal | Câncer da nasofaringe, esôfago, pulmão, estômago e pâncreas | |
Produtos lácteos | Câncer de próstata | ||
Dieta rica em cálcio | Câncer de próstata | ||
Alimentos preservados em sal | Câncer de estômago | ||
Chá mate (temperatura elevada) | Câncer de esôfago | Câncer de orofaringe | |
Bebidas alcoólicas (> 3 drinques por dia) | Câncer de orofaringe, esôfago, fígado, câncer colorretal e de mama pós menopausa | Câncer de estômago e mama pré menopausa | Câncer de pulmão, pâncreas, pele |
Índice elevado de gordura corporal | Câncer de esôfago, pâncreas, fígado, colorretal, mama pós menopausa, endométrio, rim | Câncer da orofaringe, estômago, vesícula biliar, ovário, próstata | Câncer de cólon |
Suplementos com alta dose de beta caroteno | Câncer de pulmão (em fumantes ou ex-fumantes) | ||
Ganho de peso na idade adulta | Câncer de mama pós-menopausa | ||
Altura na idade adulta | Câncer colorretal, de mama e ovário | Câncer do pâncreas, endométrio, próstata, rim, pele (melanoma) | |
Arsênico na água potável | Câncer de pulmão |
Associação convincente |
Associação provável |
Associação sugerida |
|
---|---|---|---|
Cereais integrais | Câncer colorretal | ||
Fibras alimentares | Câncer colorretal | ||
Dieta rica em vegetais não glicêmicos | Câncer de orofaringe, esôfago, pulmão e mama | ||
Dieta rica em frutas | Câncer de esôfago e pulmão | ||
Frutas cítricas | Câncer de estômago | ||
Consumo de peixe | Câncer colorretal e de fígado | ||
Produtos lácteos | Câncer colorretal | Câncer de mama pré-menopausa | |
Dieta rica em cálcio | Câncer de mama | ||
Café | Câncer de fígado e endométrio | Câncer de orofaringe, pele | |
Chá | Câncer de bexiga | ||
Alimentos contendo retinol (vitamina A1 - peixes gordurosos, fígado, queijo e manteiga) | Câncer de pulmão | ||
Vitamina D (alimentos ou suplementos) | Câncer colorretal | ||
Suplementos de cálcio (>200mg/dia) | Câncer colorretal | ||
Atividade física moderada a intensa | Câncer de cólon | Câncer de mama e endométrio | Câncer de esôfago, pulmão, fígado |
Lactação | Câncer de mama | Câncer de ovário |
O projeto disponibiliza uma ferramenta interativa com informações completas sobre cada um dos itens citados e sua relação com o câncer (em inglês). Para acessá-la, basta clicar aqui
A seguir, discutiremos cada uma das recomendações descritas no relatório.
As recomendações do comitê para evitar as causas do câncer incluem aspectos da dieta, atividade física e peso. Elas devem ser adotadas em conjunto, ocasionando uma mudança no estilo de vida que resulta na redução do risco para esse mal.
Além disso, doenças cardiovasculares, deficiências nutricionais, obesidade, diabetes e outros problemas também podem ser evitados pelas mesmas medidas.
Manter o peso dentro da faixa saudável e evitar o ganho de peso na idade adulta é uma das principais medidas contra o câncer.
OBJETIVOS:
O excesso de peso corporal está relacionado a 12 tipos diferentes de câncer:
O controle do peso e a prevenção da obesidade devem começar desde a infância, mantendo o peso no limite inferior da faixa recomendada.
Para atingir esses objetivos, deve-se adotar uma dieta saudável e praticar atividades físicas regulares. Além disso, deve-se limitar o consumo de fast foods, comidas processadas e bebidas adoçadas.
Exercitar-se regularmente é uma das principais armas na prevenção do câncer e manutenção da saúde como um todo
OBJETIVOS:
A prática de atividades físicas reduz diretamente o risco de câncer de cólon, mama e endométrio. Por controlar a obesidade, os exercícios também reduzem indiretamente o risco de outros tipos de câncer.
A recomendação da Organização Mundial de Saúde para adultos é praticar pelo menos 150 minutos por semana de atividades aeróbicas moderadas, ou 75 minutos por semana de atividades intensas.
Crianças e adolescentes precisam de 60 minutos por dia de exercícios físicos. Para prevenção do câncer, quanto mais exercício, melhor!
A prática regular de atividades físicas também reduz o risco de doença coronariana, pressão alta, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, depressão e diminui a mortalidade de forma geral.
Uma dieta saudável é essencial para a saúde. A maior parte do prato deve conter estes super alimentos.
OBJETIVOS:
Os alimentos de origem vegetal, não processados, são ricos em nutrientes e fibras. Eles reduzem o risco de câncer colorretal e de obesidade.
Recomenda-se o consumo de, pelo menos, 5 porções de vegetais e frutas por dia, totalizando 400 mg. Inclua na maioria das refeições:
Limitar esse tipo de alimento ajuda no controle do peso e na prevenção de doenças crônicas, entre elas o câncer
OBJETIVOS:
Os alimentos industrializados, assim como os “fast foods”, são ricos em calorias e pobres em nutrientes. Portanto, devem ser consumidos esporadicamente e não fazerem parte do hábito alimentar da família.
Alguns exemplos são: sanduíches, batata frita, bebidas adoçadas, chips, cereais industrializados, bolos, pães, biscoitos, sorvete, maionese, molhos de salada, molhos prontos para massas, ketchup, margarina e doces industrializados.
Consumir alimentos com alta carga glicêmica promove obesidade e aumenta o risco de câncer uterino e, indiretamente, de outros tipos de câncer e doenças crônicas.
Limitar esse tipo de alimento ajuda no controle do peso e na prevenção de doenças crônicas, entre elas o câncer
OBJETIVOS:
Existem fortes evidências de que o consumo de carne vermelha e carnes processadas é uma das possíveis causas do câncer colorretal.
A carne vermelha é uma boa fonte de proteína, ferro, zinco e outros micronutrientes. Porém, seu consumo não é essencial para a manutenção de um bom estado nutricional.
Se consumida, a carne vermelha deve ser limitada a três porções por semana, totalizando 350 a 500 g (peso da carne cozida).
Como alternativa à carne vermelha, a proteína dietética pode ser adquirida de várias fontes:
Carnes processadas são aquelas submetidas a métodos para modificar o sabor ou para melhorar a conservação como salgar, curar, fermentar ou defumar. São geralmente calóricas, ricas em sal e em substâncias carcinogênicas.
Os embutidos, por exemplo, são preservados com nitrito de sódio e nitrato. Eles originam um composto chamado nitrosamina (especialmente durante a fritura), substância considerada cancerígena. São exemplos de alimentos embutidos:
As carnes processadas devem ser evitadas ao máximo. Mesmo pequenas quantidades podem elevar o risco de câncer.
Consumir água e, esporadicamente, outras bebidas como café e chá não adoçados.
OBJETIVOS:
Bebidas como refrigerantes, energéticos, bebidas esportivas, água com sabor, sucos industrializados, café e chá adoçados com açúcares contribuem para a obesidade, cáries e aumentam o risco de vários tipos de câncer.
Para manter uma hidratação adequada, a água é a melhor opção. Chá e café não adoçados podem ser consumidos moderadamente.
Bebidas contendo adoçantes artificiais não são recomendadas, porém, não há evidências de que estejam associadas a um maior risco de câncer.
Para a prevenção do câncer, o melhor é não consumir álcool
OBJETIVOS:
O consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, está associado a vários tipos de câncer como:
Alguns estudos sugerem que pequenas doses diárias de álcool reduzem o risco de doenças cardiovasculares. Apesar disso, seu consumo não é recomendado pelos especialistas.
As necessidades nutricionais devem ser alcançadas por meio da dieta, e não de suplementação
OBJETIVOS:
Para a maioria das pessoas, uma dieta rica e variada supre a necessidade total de nutrientes e exerce seu papel na prevenção do câncer. Não há vantagem adicional em consumir suplementos industrializados.
Quando necessário, a suplementação deve ser prescrita por um profissional capacitado. Algumas situações em que podem ser necessários suplementos são: gravidez, anemia ferropriva e osteoporose.
Alguns compostos estão associados a um maior risco de câncer, como os suplementos com altas doses de betacaroteno. Eles causam câncer de pulmão em fumantes e ex-fumantes.
Quanto à suplementação de cálcio, embora tenha demonstrado efeito protetor no câncer colorretal, existem evidências de efeitos adversos em outros órgãos.
A amamentação beneficia a mãe e o bebê
OBJETIVOS:
Amamentar traz benefícios incríveis para mãe e filho. Um deles é reduzir o risco da mãe desenvolver câncer de mama.
Além disso, o bebê em aleitamento materno desenvolve mais rápido seu sistema imunológico e está protegido de infecções. A criança tem menos chance de ser obesa na vida adulta, protegendo-a, assim, de vários tipos de câncer.
A recomendação é que o bebê seja amamentado no seio, exclusivamente, durante 6 meses. Após a introdução da alimentação complementar, manter o aleitamento, se possível, até os dois anos de idade.
O paciente em tratamento ou remissão de câncer deve conversar com seu médico sobre as recomendações e definir o que está indicado para ele
OBJETIVOS:
A qualidade de vida e sobrevivência de pacientes com câncer pode ser melhorada por meio de intervenções como dieta saudável, controle do peso, atividade física e apoio emocional.
Mudanças no estilo de vida podem reduzir a chance de doenças crônicas e o aparecimento de outro câncer, no futuro.
Essas recomendações abordam aspectos específicos de determinadas regiões ou itens cujas informações foram incompletas, ou divergentes.
Existem evidências de que adultos mais altos têm maior risco de alguns tipos de câncer como:
A altura não se relaciona diretamente com o câncer, mas é um marcador de fatores genéticos, ambientais, hormonais e nutricionais atuantes durante a gestação, infância e adolescência.
Existem fortes evidências de que os motivos que levam a um peso alto ao nascimento, e suas consequências, estão associados ao desenvolvimento de câncer de mama pré-menopausa.
O arsênico, utilizado na agricultura, mineração e indústria, é um agente cancerígeno conhecido e pode contaminar a água.
Os países mais afetados pela contaminação são Bangladesh, China e Índia.
Alguns alimentos podem se contaminar com aflatoxinas produzidas por fungos. Comidas potencialmente contaminadas são: cereais, especiarias, amendoim, pistache, castanha do Pará, sementes, frutas secas e figos.
O consumo elevado de aflatoxinas é uma das principais causas do câncer no fígado.
O chá mate consumido em altas temperaturas, como é comum no sul do Brasil (chimarrão), está relacionado ao câncer de esôfago.
Em alguns países, como na Ásia, é frequente conservar legumes e peixes no sal. Existem fortes evidências da associação entre o consumo desses alimentos e o câncer de estômago.
O café contém vários ingredientes bioativos que protegem contra vários tipos de câncer:
Existem fortes evidências de que o consumo de produtos lácteos e suplementos de cálcio protegem contra o câncer colorretal.
Por outro lado, alguns trabalhos sugerem que o leite e derivados aumentam o risco de câncer de próstata.
Recomendações sobre a prevenção do câncer e de outras doenças crônicas estão amplamente disponíveis em todo o mundo. Porém, muitas pessoas não têm acesso às informações ou não lhes dão a devida importância.
Portanto, ações para conscientização da população precisam partir do governo, dos profissionais de saúde e de cada um de nós. Compartilhe esse conteúdo com quem você ama. Juntos, iremos fazer a diferença na saúde e no bem-estar de muita gente!
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